Saber ouvir para saber cuidar

10-10-2009 08:44

Por Saulinho Farias

Meditando em Jesus nós nos impressionamos com a sua tremenda habilidade em ouvir as pessoas. Sua audição era aguçada pelo Espírito e ouvia até aquilo que não era pronunciado, o som que era ecoado na região dos pensamentos e que brotava do coração. Quantas vezes os fariseus foram surpreendidos com o Senhor ouvindo seus pensamentos maus?

                Jesus manifestava o interesse em ouvir as pessoas falarem sobre suas necessidades e aflições. Muitas vezes tal necessidade era claramente visível, mas ainda assim o Senhor estimulava as pessoas a falarem, quando perguntava: “o que você quer que eu faça?” Não é à toa que o ministério de cura de nosso Senhor Jesus foi tão forte e poderoso. Ele não chegava lá e simplesmente curava alguém como se fosse mais um. Não! Ele olhava nos olhos de cada um, de maneira profundamente amorosa e interessadamente atentava em suas palavras.

                Quando Lázaro morreu e o Senhor chegou à Betânia, ele já estava ciente de tudo que tinha acontecido, bem como do que iria acontecer. Marta chegou chorando e logo depois Maria se derramou aos seus pés em prantos, dizendo: “Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido”. Ele não interrompeu suas palavras. Ele não disse: “Eu já sei! Eu já sei!” Ao invés disso, Ele atentou no sofrimento daquelas irmãs e chorou com elas, mesmo sabendo o que estava para acontecer, de que Lázaro iria ressuscitar. Ele foi capaz de ouvi-las, de comover-se e de chorar com elas.

                Em nossos relacionamentos devemos ser capazes de ouvir uns aos outros. Em Hebreus 5.11 o apóstolo denuncia a imaturidade daqueles irmãos e aponta a causa: “...porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir”. Na versão do Novo Testamento Vivo, temos: “Existe muito mais que eu gostaria de falar nestas linhas, mas vocês parecem não prestar atenção, portanto é difícil fazê-los compreender”. No verso 12 vemos que eles já deveriam ser mestres, levando em consideração o tempo na fé que tinham, mas não eram porque tinham dificuldade em ouvir.

                Um bom discipulador é antes de tudo um bom discípulo. Alguém que ensina bem com certeza aprendeu a ouvir bem. Parar para ouvir o líder (autoridade superior) é um sinal de maturidade, parar para ouvir o companheiro (mesmo nível de autoridade) é sinal de amizade, parar para ouvir o discípulo (autoridade inferior) é sinal de humildade. E é aqui que vamos nos deter por enquanto. 

Ouvir o discípulo é muito importante para ele seja curado em sua alma. Precisamos deixa-lo falar, se expressar, sentir-se livre para abrir seu coração conosco. Muitas vezes queremos interromper o discípulo por causa de uma simples palavra que não concordamos e então, nossas boca se transforma em uma cachoeira de palavras interruptas que empurram para baixo qualquer possibilidade de o discípulo ser compreendido. Se não formos capazes de ouvir as pessoas, como iremos compreendê-las? Muitas vezes tiramos conclusões dos discípulos baseando-se em nosso ponto de vista, e não atentamos para o que a Palavra diz, como também, ignoramos o contexto de vida do discípulo. Como resultado, as feridas continuam expostas e os filhinhos sem cura.

                Não estou dizendo que não temos que falar nada e só ficar ouvindo. Não vamos para outro extremo. Sim precisamos falar, precisamos corrigir, precisamos admoestar, precisamos confrontar. O importante é sempre perguntarmos ao Senhor, quando e como devemos falar.

                Quando? – “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Pv 25.11  -  Muitas vezes queremos falar tudo o que o discípulo precisa, mas na circunstancia errada. Não temos a paciência para esperar o momento certo. Aprendi coisas preciosas na convivência com discípulos aparentemente problemáticos. Às vezes não temos que falar nada pra eles. Sim, às vezes o nosso silencio fala com mais força do que qualquer palavra. Em algumas situações, deixei que algumas pessoas tirassem suas próprias conclusões sobre suas próprias palavras, e saí de perto, agendando uma nova conversa para outro dia, quando a poeira baixasse e a pessoa estivesse mais predisposta a ouvir. Nesse intervalo, dobrei meus joelhos e clamei ao Senhor para que ele falasse àquele coração. No outro dia quando voltei, não foi preciso eu falar, a própria pessoa veio reconhecendo seus erros e pedindo oração.

                Como? – “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo” Pv 16.24 – Como precisamos melhorar nesse aspecto. Somos tão incisivos, duros e ásperos no falar que acabamos piorando a situação. A Bíblia diz que devemos corrigir com espírito de brandura (Gl 6.1). Devemos ser mansos, brandos, cordiais. Isso não significa que vamos passar a mão por cima dos erros ou não tocar na ferida, mas sim que vamos tratar com óleo e vinho (Lc 10.34), ou seja, com unção e graça do Espírito Santo, por meio da Palavra de Deus.