Discipular é Conviver

10-10-2009 08:40

Por Saulinho Farias

“Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar” Marcos 3.13,14

“Quando estava o Senhor para tomar Elias ao céu por um redemoinho, Elias partiu de Gigal em companhia de Eliseu. Disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel. Respondeu Eliseu: Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. E assim, desceram a Betel”. 2 Reis 2.1-2

            Quando Jesus  chamou os seus discípulos, não os chamou para ficarem sentados no domingo à noite em um local de reuniões cantando corinhos e assistindo-o pregar, nem para participarem de um outro encontro formal em outro dia da semana, para estudarem os profetas menores e os salmos. Não! Jesus os chamou para conviverem com Ele.

            Discipulado é relacionamento, e não meramente reunião. O discípulo deve procurar atender o chamado daquele que o instrui e estar junto dele. Observe no primeiro texto que lemos que os discípulos se aproximaram de Jesus, logo após o seu chamado. No texto de 2 Reis, vemos que Elias estava em companhia de Eliseu. Havia um relacionamento entre eles, um compartilhar de vida. Vimos também que Eliseu insistiu pela companhia daquele que o instruía. Ele sabia como eram importantes aqueles momentos de convivência, estava com sede de aprender.

            Como é bom quando encontramos discípulos assim, sedentos em conviver, em aprender. É uma alegria! Da mesma forma, como é triste quando um “discípulo” não quer estar junto daquele que o instrui, exorta, admoesta. Todo verdadeiro discípulo, como dizia Paulo acerca Timóteo e Tito, é exatamente isso, um filho. Temos aprendido que o relacionamento de discipulado é paternidade espiritual, é vida de família.

            Uma família que não convive não é uma família estável, normal. Um exemplo claro se vê na criação de filhos com os pais separados, divorciados, ou de pais ausentes, frenéticos por trabalho e dinheiro, que acabam esquecendo esposa e filhos. Há sempre uma lacuna na estrutura familiar. Não basta ter as contas pagas e comida todo dia. Numa família, as pessoas precisam conviver umas com as outras.

            Na família de Deus, segue-se este mesmo princípio. Precisamos estar sempre juntos se quisermos amadurecer de maneira equilibrada. Em Atos 2.44-47 vemos que naquele instante a igreja vivia de maneira maravilhosa. Todos estavam juntos e tinham tudo em comum. Viviam o reino, não de forma isolada, mas como um corpo, eram unânimes. Viu-se claramente o resultado: “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”.

            É na convivência que aprendemos com nossos líderes acerca de como devemos proceder e é na convivência que aqueles que lideramos verão o exemplo a ser imitado. O exemplo é a ferramenta mais poderosa do ensino, e só podemos ser exemplo para alguém se permitirmos que esse alguém nos observe, em casa, com esposa, filhos, pais, na escola, com amigos, colegas, no trabalho, etc.

            Quando convivemos uns com os outros:

ü  Passamos a nos conhecer melhor, não apenas as virtudes, como também os defeitos, coisas que precisam ser corrigidas. Conhecemos os discípulos, não apenas pelo que dizem que eles estão fazendo, mas por aquilo que estamos vendo neles.

ü  Passamos a admirar de maneira madura aqueles que nos instruem. Como imitaremos alguém se não admirarmos?

ü  Perdemos um pouco a privacidade, mas em compensação, ganhamos intimidade e autenticidade nos relacionamentos. Ganhamos amigos.

ü  Brincamos, nos alegramos, comemos juntos, trabalhamos, contamos histórias, cozinhamos, passeamos, visitamos, e em meio a cada precioso instante desses, meditamos, oramos, impomos nossas mãos uns sobre os outros, aconselhamos, somos aconselhados, ou seja... vivemos na prática aquilo que cremos.

Obviamente, há uma etiqueta de preço para a convivência madura em um relacionamento de discipulado. Custa o orgulho, auto-suficiência, o individualismo e egoísmo. O lucro é tremendo por esse investimento: Aprendemos a andar na luz (sermos autênticos e sinceros); aprendemos a dividir, a repartir, aprendemos a nos submeter e também a liderar e servir com graça e amor.

É assim que Deus deseja o seu discipulado, pois é o discipulado de Jesus. É assim que Deus sonha com a Igreja. Sonhemos com isso também, vivamos isso também.